Riga, uma cidade que não se esquece!

Riga foi a capital do Báltico que mais me marcou. Chamam-lhe a Paris do Norte, mas penso que é muito mais, sem comparação com nenhuma outra cidade que visitei. Cheia de contrastes, do centro histórico que parou no tempo, às ruas do “Centro Calmo” com prédios Art Nouveau, ao bairro russo, velho e decadente, e ao mercado. Tudo parece desenquadrado, mas, em simultâneo, faz sentido. Riga é a mais elegante e cosmopolita cidade do Báltico e foi, sem dúvida, uma agradável surpresa. Vamos descobrir o que visitar em Riga?

À descoberta de Riga

Riga está dividida em três zonas bem distintas – a Cidade Velha, o quarteirão de Art Nouveau e o Bairro Soviético. No entanto, existem  outras zonas da cidade –  jardim Bastejkalns e o mercado de Riga – que não quererá deixar de ver.

Começando pela Cidade Velha, o primeiro passo é mesmo guardar o mapa e apenas deambular pelas ruas. O provável é que acabe por passar por todos os locais emblemáticos como a velha Catedral. À primeira vista parece afundada no solo dada a altura que tem do nível da rua. No entanto, foi construída assim precisamente para não se afundar com a subida das águas do rio. A igreja foi construída no século XIII e reconstruída diversas vezes ao longo da sua história, motivo pelo qual apresenta estilos arquitetónicos de diferentes épocas. É ainda a maior catedral do Báltico, assim como o seu Órgão com mais de 6700 canos.

Para além da “velha” Catedral recomendo também uma visita à Catedral S. Jacob e à Igreja de S. Pedro, ícones da cidade e dois tesouros que Riga soube preservar com sabedoria ao longo dos séculos. A Catedral S. Jacob é famosa pelo sino, tocado durante as execuções ou, segundo contam algumas histórias, quando alguma mulher infiel passava pela igreja. A Catedral é um dos mais importantes monumentos arquitetónicos de Riga e está incluída na Lista de Património Mundial da UNESCO.

A igreja de S. Pedro tem a mais alta torre de Riga e foi o edifício de madeira mais alto da Europa até à II Guerra Mundial, com mais de 120 m. Construída originalmente em 1200, sofreu reconstruções nos séculos XV e XVII. Teve alguns “azares” ao longo da história: um incêndio que a destruiu em 1721, foi seis vezes atingida por um relâmpago (e ainda dizem que os relâmpagos não caiem duas vezes no mesmo sítio!), a torre destruída nos bombardeamentos da II Guerra Mundial (1941) e o galo trocado sete vezes desde 1491. Renovada após o final da Guerra, a sua restauração terminou precisamente no dia de S. Pedro. Atualmente tem mais de 123 m e um elevador para uma plataforma a 72 m de altura com vista para a cidade. Na torre está instalado um relógio com apenas o marcador das horas e que cinco vezes por dia toca uma melodia tradicional da Letonia, “Rīga Dimd”.

Seguimos agora para o Castelo, construído no século XIII e originalmente chamado Castelo Wittenstein (“feito de pedra branca”). À semelhança de muitos outros edifícios históricos de Riga foi destruído e reconstruído diversas vezes até ser incorporado no sistema de fortificação da cidade. É atualmente residência oficial do Presidente da Letónia.

No caminho para o castelo não deixamos de reparar nos “Três Irmãos”. Três casas medievais dispostas lado a lado, localizadas na Maza pils iela. Cada uma representa um estilo arquitetónico diferente e um século de construção. O “irmão mais velho”, o número 17 foi construído no século XV e é a mais antiga casa de habitação de pedra de Riga. As outras duas foram construídas nos séculos XVI e XVII.

Outro ex-libris da cidade é o Portão Sueco que, segundo a lenda, foi construído ilegalmente por um mercador rico para aceder diretamente aos seus armazéns. Ao lado encontra-se a Torre da Pólvora com paredes com 2,5 m de espessura que guardam ainda nove canhões russos.

Passamos ainda pela “Casa do Gato”, uma casa amarela Art Nouveau conhecida pelos seus gatos no telhado (duas estátuas de felinos). Construída, segundo a história, por um mercador recusado de entrar na Grande Guilda. Os dois gatos foram construídos com as caudas e rabo empinados e virados para o edifício da Guilda. Só quando conseguiu entrada o mercador mandou virar os gatos ao contrário.

Visitamos agora os edifícios da Grande e Pequena Guildas de Riga. As Guildas são organizações de mercadores que controlavam o comércio na cidade. Conforme o nome indica uma teria mais prestígio e poder que a outra, mas ambas tinham igual importância para a cidade.

Chegamos agora à praça principal onde se destaca a Casa dos Cabeças Pretas. Este é um dos meus edifícios favoritos na cidade. Quase inteiramente destruído pelos bombardeamentos alemães da II Guerra Mundial e reconstruído por altura do 800.º aniversário da cidade em 2001. Esta casa abrigava mercadores estrangeiros, maioritariamente solteiros, e recebeu o nome do seu santo padroeiro, S. Maurício.

Ao lado da Casa dos Cabeças Pretas fica um dos mais impressionantes museus que já tive a oportunidade de visitar. Não pela grandiosidade das suas obras, não pela rica da coleção, mas pela história que abriga e que com muito respeito relembra. Porque existem momentos da história do mundo que não podem nem devem ser esquecidos. O Museu da Ocupação da Letónia tem como principal missão manter viva a memória de décadas de ocupação, da alemã na II Guerra Mundial, à soviética que durou até 1991. Ali podemos observar o acordo arbitrário entre a Alemanha e a Rússia para entrega deste país ao governo comunista da então URSS, a ocupação e domínio nazi, a expulsão dos judeus e as deportações em massa para a Sibéria e outros territórios longínquos da Rússia.

Saímos agora do Centro histórico da cidade velha e partimos à descoberta do bairro “mais chic” da cidade. O “Centro Calmo”, o quarteirão de Art Nouveau de Riga, é um museu ao ar livre com diversos edifícios deste estilo arquitetónico dos séculos XIX e XX. Este bairro é considerado um dos maiores e mais diversos centros de arquitetura Art Nouveau da Europa.

Do lado oposto da cidade temos o subúrbio moscovita, localizado nas imediações da Cidade Antiga, para lá do Mercado. Este bairro parece um mundo à parte, com um ar algo sinistro. O que mais salta à vista é  o famoso “Bolo de Anos de Estaline” (um mamarracho de um edifício em pedra), a atual Academia de Ciências. É o primeiro arranha-céus da cidade sendo construído na década de 1950. É bastante difícil desviar os olhos da sua estrutura, não só pela altura impressionante mas também porque faz sombra até ao centro de Riga. Este subúrbio é também conhecido pelos edifícios de Madeira, sobretudo igrejas, e pelo seu ambiente único que parece ter parado no tempo.

Outros locais a não perder: 

O Mercado Central foi outro dos espaços que mais me impressionou, não só pela sua dimensão como pelas cores e aromas da comida local onde se destacam os frutos vermelhos (as amoras, as cerejas, os mirtilos) e os pickles (de pepino, de tomate, de pimento de alho, de quase tudo…). O mercado nasceu nos hangares dos Zepelins abandonados pelos alemães após a I Guerra Mundial. Os hangares foram abandonados em Kurzeme e transportados para a sua atual localização durante os anos 1920.

O Parque Bastejkalns foi um dos espaços mais encantadores da cidade. Seja para descansar na relva, fazer um picnic, passear de barco pelos canais, visitar este parque é um prazer. Vai lá voltar várias vezes, quase de certeza.

Próximo do Parque encontramos a Catedral Ortodoxa Russa, a maior do Báltico (não tão impressionante como a de Tallinn), mandada construir pelo Czar Russo Alexander II. Os seus interiores são absolutamente deslumbrantes, com uma enormidade de quadros e figuras religiosas, um “altar” ricamente decorado em tons de dourado e cada centímetro de parede pintado com cores garridas.

Riga é uma cidade quase por completo reconstruída das cinzas, neste caso da destruição causada pelas duas guerras mundiais. Com pouco mais de 20 anos de Independência da opressão do regime soviético (1991), Riga soube virar a página da sua história e entrar no século XXI de uma forma resplandecente e vibrante.

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