Kotor é uma pequena cidade do Montenegro, comprimida entre as montanhas e o mar adriático, com muito charme e algumas histórias para descobrir. A cidade está cercada por uma muralha fortificada que se estende colina acima. São 1200 m de comprimento, até uma altura de 260 m acima do nível do mar. Kotor é um aglomerado medieval de igrejas, palácios e praças de inspiração veneziana com mais de 200 anos. Numa escala menor estas construções assemelha-se a uma cidade do poderoso reino italiano. Património da Humanidade da UNESCO, encontra-se bem preservada, sendo um dos mais bem preservados núcleos urbanos medievais do mediterrâneo. Vamos descobrir o que visitar em Kotor?
As suas muralhas são igualmente um exemplo da construção de fortificações da Europa. O início da construção data do século IX. É constituída por três portas todas usadas até hoje. A “escalada” das muralhas implica subir 1350 degraus e, apesar de dura, é altamente recompensada pela vista, a melhor de Kotor. A subida exige alguma forma física e muita determinação. Nos dias de maior calor a melhor hora para subir é bem cedo ou ao final do dia, quando está menos calor e o sol não bate com toda a sua força na colina. Enquanto subia perguntei-me variadas vezes como faziam os antigos habitantes do castelo para subir. Qual a velocidade com que o faziam e como levavam mantimentos encosta acima. Passaram a ser os meus heróis.
A meio caminho encontramos a pequena igreja da nossa Sra. da Saúde, estrategicamente colocada para descansarmos da subida e preparamos o que ainda falta. A igreja é simples e de pequena dimensão, mas quer vista de cima, quer das ruas da cidade não passa despercebida. A muralha termina no Forte de Kotor ou Castelo de São João. Ali é possível avistar toda a cidade, o porto e uma extensa parte do fiorde onde esta se instalou há mais de 200 anos. É uma vista prodigiosa e única, impossível de traduzir por palavras.
A entrada na cidade é feita através da porta do Mar, construída durante o domínio veneziano. Por cima da porta está uma estrela comunista que assinala a data da libertação dos nazis na II Guerra Mundial. A estrela tem uma inscrição de Tito, o líder que esteve à frente da antiga Jugoslávia após o fim da guerra. No entanto, também é possível entrar na cidade por duas portas laterais, mas que nos levam direto pelas suas ruas labirínticas. A porta do Rio dá entrada para uma rua mais calma e passa sobre as translúcidas águas do rio Skurda. A Porta Gurdić, leva-nos por um estreito corredor, junto às muralhas. Por ser uma entrada menos procurada permite sentir o espírito de outras épocas e o que seria entrar na cidade nessa altura.
Kotor tem ainda uma vasta riqueza patrimonial com monumentos emblemáticos como a Torre do Relógio, a Catedral de S. Tryphon, as Igrejas de Sveti Luka e Sveta Marija e os inúmeros palácios como Bizanti, Buca, Pima e Grgurin.
A Torre do Relógio é um dos símbolos da cidade desde 1602. O seu relógio emblemático é mantido atualizado através dos séculos, pela mesma família de relojoeiros. A Catedral de S. Tryphon é uma igreja católica do século XII, reconstruída várias vezes devido aos múltiplos tremores de terra que abalaram Kotor ao longo dos séculos. Um desses terramotos destruiu totalmente a sua fachada, assim como as torres. No seu interior destacam-se os pilares de pedra cor-de-rosa, os frescos originais e a peça do altar, um baixo-relevo de prata. A igreja inclui ainda diversos relicários com partes dos santos, incluindo do próprio S. Tryphon, patrono da cidade. Outra igreja que merece visita é a de S. Nicolau, localizada numa das mais movimentadas praças da cidade. Como qualquer igreja ortodoxa cheira a incenso e tem um magnífico iconóstase, o altar que separa os fieis dos líderes religiosos.
Ainda na mesma praça, descobri a Igreja de S. Lucas, pequena, mas com uma história bastante interessante e atribulada. Foi construída em 1195 como uma igreja católica, mas entre 1657 e 1812 o serviço decorria alternadamente, entre a doutrina católica e a ortodoxa. Atualmente é uma igreja ortodoxa. Dos palácios destaco o Pima cuja arquitetura tradicional montenegrina (uma mistura de barroca com renascentistas) sobressai na Praça da Farinha (penso que aqui existiu um importante armazém de farinha, daí o nome peculiar). Não sei porque, talvez por parecer completamente desenquadrado do resto da praça, adorei este palácio.
A vida na cidade faz-se em redor das suas múltiplas praças, ponto de encontro e centro das mais diversas atividades. Atualmente preenchidas com cafés e restaurantes continuam a ser o local ideal para apreciar quem passa e colocar a conversa em dia. As ruas estreitas de pedra são ideais para vaguear sem pressa e sem mapa, parando aqui e ali para um gelado, uma bebida fresca ou para provar as especialidades locais de inspiração mediterrânica. Por tudo isto a cidade encontra-se protegida na lista da UNESCO como Herança Cultural Mundial, desde 1979.
Fora das muralhas não podemos deixar de visitar o pequeno mercado onde podemos encontrar produtos locais. Azeitonas, azeite, queijos, frutas e legumes (bem guardados por dezenas de abelhas) e peixe fresco. É o local ideal para ficar a conhecer os produtos locais, tipicamente mediterrânicos. A “praia” é outro local indispensável, sobretudo nos meses de verão. A areia fina é aqui substituída por pequenos seixos que nos magoam os pés. Mas as águas límpidas e tépidas são um convite que não conseguimos resistir, sobretudo pela vista envolvente.
Guia Prático:
Como ir: autocarro, carro ou barco. Não existem alternativas mais rápidas visto que Kotor fica no meio do fiorde. Os acessos podem ser feitos por Dubrovnik (1h30 a 2h dependendo do trânsito na fronteira) ou via Podgorica, capital do Montenegro. A distância é um pouco maior, mas não tem a desvantagem das filas para atravessar a fronteira.
Onde ficar: existem uma série de hotéis mesmo no centro histórico. Recomendo o Hotel Villa Duomo, se puderem escolher o sótão tanto melhor. É um hotel construído num edifício tradicional recuperado e o quarto do sótão é um charme com a cama colocada na claraboia. Adorei.
Como se deslocar: a pé. Aliás, no centro não existe outra hipótese porque não circulam veículos automóveis.
Onde e o que comer: a cidade está coberta de restaurantes por todo o lado. Nas praças e até nas ruas mais estreitas. Recomendo o City e o Astoria. O primeiro para comida mais tradicional e o segundo para comida com um pouco mais de requinte. Os preços são médios e a comida muito próxima da italiana, mas com mais foco no peixe fresco e frutos-do-mar (mexilhões, peixe frito e grelhado, calamares, risotos de frutos-do-mar).
A moeda: a moeda é o € apesar do país do ser da União Europeia. Ficou assim definido em 2006 quando Montenegro se separou da Sérvia.