Myanmar, a terra dourada

De Yangon a Mandalay, de Bagan a Inle, passando por Bago e Mingun aqui fica o retrato de Myanmar, a terra dourada. Um país moderno, mas que mantém as suas raízes e cultura, um país de grandiosos templos, um país de gentes de afetos.

Yangon

Em Yangon descobri os mais magníficos templos, onde a atmosfera é de grande tranquilidade. Sente-se uma enorme paz e os únicos sons são as orações dos crentes que prestam as suas homenagens em redor da estupa principal e tilintar melódico das folhas de ouro presas no topo. Podia ficar horas ali, só a admirar o movimento e a escutar estes sons, envolvida com o cheiro forte do incenso e das flores. Adicionalmente conheci a história dos portugueses que ali se instalaram e têm por lá raízes muito próprias.

Myanmar Terra Dourada

Bagan

Em Bagan, além da grandiosidade do maior complexo de templos, encontrei o silêncio, cortado aqui e ali, pelas scooters elétricas. Encontrei também um contador de histórias e amante de fotografia, que nos guiou pelos melhores trilhos de entre milhares de templos, partilhou connosco os melhores locais para tirar as fotos (tendo em atenção o enquadramento e a luz) e alguns segredos, como o melhor lugar para assistir ao por-do-sol. Através das suas inúmeras histórias, fico a conhecer um pouco melhor Mianmar e Bagan.

Myanmar Terra Dourada
O segredo mais bem guardado de Bagan

Lago Inle

No lago Inle, encontrei uma estranha forma de vida, construída em estadas nas suas águas calmas. Encontrei ainda pequenas indústrias familiares, como a tecelagem a partir da extração da fibra de nenúfares, a produção de cigarros e a joalharia em prata. É uma região com uma atmosfera única, composta por pequenas vilas, templos, restaurantes e resorts turísticos construídos, onde se mistura a tradição e o turismo, num equilíbrio até agora, bem conseguido.

Myanmar Terra Dourada
Como construir uma casa na água?
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Criando a fibra através do cale da flor de lotus, dos nenúfares.
Myanmar
Com 96 anos a trabalhar e mesmo assim recebeu-nos com o maior sorriso.
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Mandalay

De Mandalay, a antiga capital do Myanmar, antes de Yangon e Naipidau, (sim, por aqui troca-se de capital como de camisa), trago memórias do fabuloso templo de Kuthodaw, que guarda o mais impressionante livro alguma foi criado. São 729 pedras gravadas, guardadas em pequenas estupas brancas, com uma página do livro sagrado do Budismo Taravada. Ainda em Madalay recordo os magníficos por do sol da icónica Ponte de U Bein, em Amarapura. Por mais vezes que se assista, seja qual o for ângulo escolhido, é um momento de total silêncio. Não consigo desviar os olhos. Não consigo pensar em mais nada, senão naquele momento e como gostava de o prolongar para sempre.

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O maior livro do mundo!
Myanmar
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Ah! Quase me esquecia. Já viram patos domesticados a serem conduzidos de barco como se fossem um rebanho de ovelhas? Eu também não até ter visto, da ponte de U Bein. Simplesmente não consegui desviar os olhos, fascinada. Não consegui deixar de rir. De tal forma que nem me lembrei de fotografar aquela visão insólita e única. Ninguém acreditará, mas juro que não sonhei.

Bago e Mingun

A visita a Bago e a Mingun são memoráveis pela grandiosidade dos seus templos. Em Bago deparámo-nos com os mais monumentais budas reclinados e em Mingun, tudo tem dimensões dramáticas, a começar pelo gigante templo inacabado Ayeyarwady (como, pergunto-me quando contorno o gigante de pedra, conseguiram levantar tal empreendimento? Como?), os dois leões agora destruídos que assinalavam a entrada (e cuja órbita ocular caída ali ao lado deixou-me “esmagada”, não literalmente, felizmente, mas a todos os outros níveis), o gigante sino de mais de 90 000 toneladas, o único do mundo que ainda canta, e o templo de Hsinbyume, um dos mais instagramaveis, branco e cheio de recantos, contornos e formas que levariam até o ser mais indiferente a sacar do telemóvel para tirar umas dezenas de fotos.

Myanmar Terra Dourada
Myanmar Terra Dourada
E isto é só o primeiro andar…
Myanmar Terra Dourada
Adivinhem aonde foi parar esta foto?
Myanmar
Há o “eye of the tiger”. Este é o olho do leão?

Deambulando por Mingun, pude ainda ver mais de perto a vida das comunidades mais rurais e os seus contrastes. De um lado uma “vivenda” moderna com parabólicas, do outro uma casa típica de bambu com um carro de bois no jardim. Estes carros de bois são, além dos tratores locais, curiosos táxis onde é possível ir daqui para ali. Curiosamente, e conforme reparei à chegada, também sofrem de problemas técnicos pouco desejáveis.

Myanmar

Que mais recordo desta experiência? A mais desconfortável carroça de sempre, onde percorri os trilhos daquela que foi a capital birmanesa por mais de oito séculos, Inwa. Assim como de pedir um prato “low spicy” e perceber que isso quer dizer “apenas uma mão-cheia de malaguetas”. Ver cães, cachorros, gatos e gatinhos por todo o lado. Tal como dos templos de ouro, das cores garridas dos seus santuários e dos budas gigantes e ornamentados. De andar o dia todo descalça e da liberdade que isso dá. Da pequena que nos tirou a mais bela foto que temos, apaixonada e cheia de vida. O mais notável, foi o quão abertas as pessoas são connosco, quão dispostas estavam a conversar – sobretudo os mais jovens que nos abordaram em diversos locais para treinar o seu inglês.

Myanmar
Cinco malaguetas num prato “low spicy”!
Bagan
Fofinhos!!
Myanmar Terra Dourada
É talvez por isto que Myanmar é a Terra Dourada

Myanmar não é ainda um destino conhecido, pelo menos aqui pela Europa, ou talvez seja, mas devido a notícias relativamente recentes ainda sejam poucos os que se aventuram. No entanto, as coisas mudam. O regime militar continua e ainda existem zonas onde não podemos entrar, mas as pessoas sentem-se livres para voltar a sorrir. São esses sorrisos e afetos que me arrebataram. Isso e o facto de ser um país que, apesar do turismo, ainda se consegue manter autêntico. Terrível será o dia em que o turismo tome conta por completo e arruíne a genuinidade destas gentes. Fico com o desejo de voltar rapidamente a Myanmar, sendo definitivamente a terra dourada.

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