Bagan, perdidos em milhares de templos

Quando aterrei no pequeno aeroporto de Bagan mal conseguia conter a excitação. Estava um pouco mais perto de conhecer aquele que seria um dos lugares que mais me marcaram na visita ao Myanmar. A promessa e as expectativas eram grandes. Visitar o maior complexo de templos budistas, estupas e mosteiros do mundo, mais de 2000, recentemente nomeado património da UNESCO.  Vamos ficar perdidos nos milhares de templos de Bagan?

Os templos de Bagan estão dispersos por uma área de mais de 40 km², nas margens do rio Ayeyarwady, construídos nos séculos XI, XII e XII, quando a cidade era a capital do Primeiro Império birmanês. Porque foram construidos tantos? Foi uma das perguntas que fiz a Tun Tun, o nosso guia contador de histórias. E existem várias explicações, sendo a principal a importância da cidade. Os poderosos reis e habitantes da capital de um dos maiores impérios asiáticos mandaram construir templos para homenagear Buda, cada um maior e mais espetacular que o anterior. Desta forma, nasceram como cogumelos, dando origem a este magnífico complexo.

A passagem do tempo não foi um teste fácil à sua resistência. Durante vários séculos a região foi várias vezes assolada por sismos. Aliás, o mais recente ocorreu apenas em 2016, danificando diversos templos. Além disso, a passagem do tempo reduziu muitas das estruturas a pouco mais do que escombros. Muitas foram recuperadas conforme possível dado os escassos recursos do país. O trabalho foi finalmente recompensado quando a UNESCO, ao fim de vários anos de recusas, finalmente concedeu a Bagan o estatuto de Património da Humanidade. 

Mal descarreguei a bagagem, e seguindo a recomendação do turismo de Myanmar, “Em Bagan deixe apenas as marcas das suas pegadas”, foi de scooter elétrica que parti à descoberta, ziguezagueando (era a primeira vez que conduzia um veículo de duas rodas). Comecei pelos templos mais próximos e conhecidos, deixando os mais distantes para o dia seguinte. Apesar de ser o principal motivo pelo qual os turistas visitam Myanmar, os templos de Bagan não estavam cheios, permitindo desfrutar com tranquilidade. Fazendo amigos aqui e ali com as gentes de Bagan, povo sempre afetuoso e com um sorriso para nos receber. 

Após um por do sol irresistível nas margens do Ayeyarwady e de uma noite calma e repousada, acordei pronta para um dia cheio de memórias e emoções. A começar pelo Tun Tun, o guia que nos acompanhou durante o dia. Se não fosse este um dos mais grandiosos locais do planeta, certamente ele teria conseguido que saíssemos de lá com essa ideia.

Tun Tun apresentou-me a Bagan e mostrou os seus templos, dos mais turísticos aos mais secretos, sem vivalma em redor. Apresentou-me a uma família local que produz tradicionalmente as peças lacadas, famosas por aqui. Mostrou-me os melhores ângulos para cada foto, os recantos mais secretos dos templos e os trilhos sem ninguém. Levou a zonas onde apenas se ouviam centenas de búfalos de água brancos a ruminar, com uma vista que me deixou sem palavras. Nestes locais havia sempre uma história, acompanhada de um simples desenho numa folha de papel que facilitava a viagem no tempo. 

Parti cedo do hotel, atravessando a única porta que ainda existe da muralha original que cercava Bagan, a descoberta dos mosteiros, templos, santuários e estupas da antiga capital imperial. Talvez o mais conhecido seja o Ananda. É certamente o mais venerado pelos budistas birmaneses. Tem quatro fabulosos budas dourados e dois fantásticos guardiões, esculpidos e pintados em madeira. A seguir o Shwezigon, com uma enorme cúpula dourada e a árvore Chayar que floresce todo o ano, e o Sulamani, cujas pinturas estão magnificamente preservadas. Por fim, o Htilominlo, um templo triunfante com uma torre que atinge os 46 m de altura.

Depois dos “famosos” seguimos pelos mais diversos trilhos da árida planície, caminhos apenas percorridos de carroça, mota ou a pé. Por todo o lado, templos que se erguem do solo, empoeirados da areia dos séculos, criando um cenário espetacular.

Terminei o dia no topo de um templo pouco conhecido. Sem turistas, sem ninguém. Ali fiquei a contemplar o pôr do sol, a luz quente intensificando os tons castanho-avermelhados dos templos que se espalham à volta, até perder de vista. 

O que precisa de saber: 

Para entrar na zona Arqueológica de Bagan é necessário adquirir bilhetes que podem ser comprados na chegada ao aeroporto, no cais para quem chega de barcos, ou em alguns dos templos maiores. São pagos em dólares americanos com a duração de 5 dias.
Para se movimentar, o melhor são as bicicletas, as carroças ou as bicicletas elétricas (e-bikes), que podem ser alugadas em qualquer hotel. Existem também táxis, mas alguns templos são inacessíveis de carro, para já não falar que são a opção menos sustentável. 


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