Bago, uma cidade de lendas

Conta a lenda que o local onde hoje se encontra Bago estava completamente submerso até que um dia, durante a maré baixa, um pedaço de terra apareceu acima do mar. Era apenas uma ilhota pequena, tão pequena que não havia espaço suficiente, para que duas aves lá pousassem.  No entanto, foi isso que aconteceu.  Um macho Hamsa, pássaro mítico cujo nome tem raízes na língua Pali, Hansa e significa pássaro de água, aterrou primeiro e a sua companheira empoleirou-se nas suas costas. Com o passar do tempo, este pequeno pedaço de terra estendeu-se e deu origem à cidade de Bago, uma cidade repleta de lendas.

Como a maioria das cidades antigas de Myanmar, Bago é mágica. Está rodeada de lendas e personagens míticas presentes em pinturas e esculturas nos recintos dos pagodes e no coração do povo. É um dos locais mais procurados pelos devotos birmaneses pela importância religiosa da região que se reflete no pagode de Shwemawdaw, onde, segundo a lenda, dois cabelos sagrados de Buda foram consagrados.

A sua história remonta a 573 DC. Denominada Pegu pelos britânicos e foi a capital do poderoso Reino Mon durante séculos. O poder do outrora magno império só pode ser adivinhado pela abundância de locais religiosos de Bago e o que resta do seu palácio. Entre estas encontram-se muitas estátuas de Buda pequenas e grandes, pagodes, artigos cerimoniais e jardins.

Começando pelo Pagode Shwemawdaw, um zedi de ouro com 113 m de altura, dominando o espaço sobre Bago. A estupa ruiu sendo reconstruída muitas vezes ao longo dos últimos 600 anos. No canto nordeste da estupa mais alta de Myanmar, encontra-se uma enorme secção da hti (pináculo) derrubada por um terramoto em 1917.

Segundo a lenda sombria, a estupa original era um pequeno objeto ramificado, construído por dois irmãos, Kullasala e Mahasala, para consagrar dois pelos que lhes foram dados pelo Buda Gautama. Em 982 d.C. foi acrescentado um dente sagrado à coleção; em 1385 foi acrescentado outro dente e a estupa foi reconstruída a uma altura de 84 m. Em 1492 ventos fortes sopraram sobre o hiti e um novo dente foi levantado.

Bago, uma cidade de lendas: Pagode Shwemawdaw,

Através de uma escadaria no lado leste do Shwemawdaw chega-se ao Pagode de Hintha Gon, um local importante de adoração. Este templo ergue-se no topo do que em tempos foi o único lugar nesta vasta área que se elevou acima do nível do mar, sendo por isso o local natural para a hamsa da lenda aterrar. Imagens deste pássaro mítico decoram a estupa, construída por U Khanti, o monge eremita que foi o arquiteto da colina Mandalay. Estátuas do casal de aves que, segundo a lenda, deu origem a Bago, encontram-se à entrada do templo, construído para assinalar este evento auspicioso.

Bem perto destes dois pagodes, no coração da antiga Hanthawady, está localizado o Palácio Kanbawzathadi. Uma reconstrução grandiosa pintada de ouro daquilo que se imagina tenha sido em tempos. Tudo o que resta do palácio original são fragmentos dos enormes postes de teca que ocupavam outrora parte do edifício. Outro edifício reconstruído no recinto é a Sala do Trono das Abelhas, que foi outrora a câmara de dormir do rei.

Canhão português no Palácio de Bago

Nenhum sinal do palácio original se encontrou em Bago, mas em 1990, foram descobertos vestígios de enormes buracos de postes e fundações de tijolos no parque a sul de Shwemawdaw. Arqueólogos identificaram esta área como o local do palácio real de Bayinnaungs. Um dos reis mais poderosos da Birmânia, Bayinnaung (1516-81) que tomou a grande cidade em 1551 com uma força combinada do seu próprio corpo de elefantes e mercenários ibéricos.  As crónicas da corte registam que, numa última tentativa para salvar a sua capital, o monarca, Smimm desafiou o seu adversário birmanês a um combate de elefante, um duelo que Bayinnaung terá ganho com facilidade.

Próximo local de visita é o Buda de Shwethalyaung, o soberbo Buda reclinado de Bago, com 55 m de comprimento e 16 m de altura, construído pelo rei Mon Mgadeikpa no século X. Só o dedo mindinho do Buda se estende por 3 m.

Após a destruição de Bago em 1757, este enorme buda reclinável engolido pela selva e só foi redescoberto em 1881, quando um empreiteiro britânico o desenterrou durante a construção da linha ferroviária Yangon-Bago. A gigante almofada de mosaico surgiu apenas no século XIX.

Embora esta não seja a maior Buda reclinável no país é o mais amado, graças à sua expressão particularmente serena. O semblante da estátua visa transmitir aos adoradores a alegria que o Buda experienciou no seu leito de morte, no momento de entrar no Nirvana.

No lado posterior, uma série de 10 murais, representa a lenda de como o buda foi construído por Mgadeikpa.

O seu reinado foi marcado pela corrupção e violência, mas um dia o seu filho caçava nas florestas quando o seu olho caiu sobre uma monja que fez o seu coração vibrar. Embora ela fosse budista e ele, como todos no reino do seu pai, adorasse ídolos pagãos, os dois tornaram-se amantes e casaram-se após o filho de Mgadeikpa ter prometido ao seu amor que ela poderia continuar a praticar o budismo. De volta à corte, o rei ficou furioso quando descobriu isto e ordenou a execução tanto da rapariga como do seu filho. No entanto, quando a nova noiva rezou em frente ao ídolo do rei, este estalou e partiu-se. O rei foi tomado de medo e, percebendo o erro dos seus caminhos, ordenou a construção de uma estátua do Buda e a conversão da população ao budismo.

BAGO, UMA CIDADE DE LENDAS: Buda de Shwethalyaung

Bem perto encontra-se outro Buda colossal, NaungDawGyi MyaThaLyaung. O sereno buda reclinável estende-se por mais de 75 m sendo construído em 2002 com doações públicas.

Último ponto de paragem em Bago, o Pagode de Kyaik Pun, não desiludiu. “O pagode das Quatro Figuras” ergue-se nos arredores de Bago. Construído pelo rei Migadippa no século VII d.C. inclui quatro colossais Budas sentados, colocados de costas voltadas para os pontos cardeais em torno de um pilar centra. Diz-se que representar Kakusandha, Konagamana, Kassapa e o Buda histórico, Gautama. Medem uns impressionantes 27 m da cabeça aos pés.

Conforme a lenda, quatro irmãs Mon estão ligadas à construção dos budas.  Era uma vez quatro belas virgens, ricamente dotadas de riqueza. Naturalmente, elas eram cercadas por pretendentes ardentes, que estavam a tornar-se cada vez mais incómodas, visto que as irmãs não estavam inclinadas para a vida e os prazeres mundanos. Estavam mais inclinadas para a vida religiosa. Assim, as quatro irmãs concordaram em fazer um voto de celibato vitalício e comemorar o acontecimento construindo quatro imagens de Buda sentadas. Em cada imagem estaria o nome da irmã e o seu voto irrefutável terminando com as palavras: “Se quebrar alguma vez este voto, que esta imagem se desfaça em terra, um símbolo de vergonha e vergonha para mim”. Durante algum tempo houve paz até a irmã mais nova quebrar o voto e a imagem com o seu nome se desmoronar por terra. Ela morreu incapaz de enfrentar a vergonha e a desgraça.

BAGO, UMA CIDADE DE LENDAS: Pagode Kyaik Pun

À descoberta de Bago na melhor companhia.

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