Roteiro na Beira Baixa

Situada no centro de Portugal, a Beira Baixa é constituída pelos Municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão.

É um território de paisagens amplas, onde as planícies se cruzam com montes de granito e xisto, cortados por ribeiros e pequenos corsos de água. Região engalanada pelo Parque Natural da Serra da Estrela, pela Reserva Natural da Serra da Malcata, pelo Parque Natural da Serra de S. Mamede, a atravessada, entre outros, pelo rio Tejo e Zêzere. Como vê, contacto com a natureza não falta por estes lados.

A Beira Baixa é o destino ideal para quem aprecia natureza, aldeias históricas, boa gastronomia, praias fluviais, trekking ou simplesmente descanso e sombra.

É uma terra de contrastes, de tradições seculares, de saberes ancestrais e com um património edificado civil, militar, religioso e demográfico único. Sem esquecer a gastronomia.

Vários podem ser os caminhos que nos levam a percorrer estas terras. Desde Vila Velha de Rodão, mais a sul, até Penamacor mais a norte. Ou, de Oleiros mais no centro, até Idanha-a-Nova, mais no interior.

Os trilhos são os mais diversos, cada Município oferece rotas e percursos com muito a explorar. O mais difícil é mesmo decidir.

Apenas lhe deixo uma recomendação. Faça-o com calma, com tempo para percorrer de vagar as estradas, para saborear o bom vinha e os sabores locais, para dar uma espreguiçadela depois da refeição e, sobretudo, para ficar à conversa com as gentes locais que conquistam e desbravam diariamente aquela terra.

Por isso, e, porque há tanto para ver e conhecer, vou deixar-lhe apenas uma gota de cada local. Para que fiquem com o gosto de ir à procura de mais, de ir à procura do todo.

Castelo Branco

Entre os muito locais de visita que esta cidade nos oferece, deixo-vos dois menos óbvios, o Museu Cargaleiro e Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco.  

É do Museu pertence à Fundação Manuel Gargaleiro, um dos nomes maiores da arte portuguesa, que se encontra o espólio da coleção do pintor e ceramista. Uma obra recordada através da exposição de obras e esquiços do seu trabalho ao longo dos anos.

Surpresas das surpresas, no museu encontramos também exemplares de faiança nacional conhecida como a cerâmica ratinha, e peças de prestigiados artistas nacionais e internacionais como Pablo Picasso e Almada Negreiros.

No Centro de Interpretação do Bordado de Castelo Branco se expõe, recorda, recupera e mantém viva uma das mais bonitas tradições da terra, o bordado de Castelo Branco. Mãos habilidosas dominam, com mestria e rapidez, o sobe e desce da agulha enquanto esta fura suavemente o tecido, resultando numa peça de alto requinte. Impensável tal nascer das minhas mãos. Os desenhos são ainda inspirados nas criações centenárias que chegaram aos nossos dias.

Sabia que…

  • Foram inventariados 48 pontos diferentes.
  • O ponto foi criado para poupar seda (linha) nos bordados.
  • Existem 5 tipos de motivos: vegetalista, antropomorfica, zoomorfica, mitologia e inanimada
  • Uma peca pode levar 6 meses a 1 ano a fazer.

Idanha-a-Nova

Só para Idanha é preciso, no mínimo um dia, ou dois, ou três…Eu ficava pelo menos três.  Se não veja. Começando comuma visita às Aldeias Históricas de Idanha-a-Velha, Monsanto e Penha Garcia. Seguindo por um passeio pelo Geopark Naturtejo, só aqui são 5000 km² para descobrir, e terminando com um dia dedicado à saúde e bem-estar nas Termas de Monfortinho. Siga-me então por estas paragens.

Idanha-a-Velha foi fundada no século I a.c. pelos romanos e os seus vestígios, assim como dos povos que se seguiram, ainda se encontram muito presentes atualmente. Da sua fundação até à sua integração no Reino de Portugal muitos séculos e muitos povos por ali passaram. Germânicos, Suevos, Visigodos, muçulmanos e, só por fim, os portugueses.

A visita à aldeia permite reconhecer a requalificação e valorização do património ao longo de várias épocas e os vários vestígios remanescentes, como uma parte das estruturas defensivas da cidade ou a Igreja de Santa Maria onde se encontram ainda obras medievais e alguns frescos que foram encontrados durante a última recuperação da igreja.  Motivos mais do que suficientes para por aqui passar.  Eu adorei!

Segue-se Monsanto. Tenho boas memorias dos caminhos e ruas íngremes desta terra onde já fui feliz. Ao voltar, 30 anos depois, os caminhos pareceram um pouco mais íngremes, mas continua uma joia de aldeia. Por isso, recomendo que se ponha ao caminho e percorra os trilhos tradicionais da aldeia mais portuguesa de Portugal, seguindo o Percurso Pedestre “Rota dos Barrocais

Vai descobrir por entre as suas ruas apertadas e subidas íngremes, verdadeiros tesouros. E, subindo ao topo da aldeia, visite o orgulhoso castelo. Já meio decrepito, ergue-se envolto pelos mais variados elementos culturais e históricos e por uma paisagem de tirar o fôlego.  

Parte depois em direção a Penha Garcia. Aqui vai descobrir como uma aldeia tão pequena tem tanto para ver e fazer. Começando um passeio pela aldeia admirando a arquitetura tradicional em quartzito que lhe dão uma cor característica, subindo ao Castelo, um dos redutos dos templários e de onde se avista uma paisagem de tirar o fôlego, 360.º, e descendo até ao rio pela “Rota dos Fósseis”, percorrendo o Parque Icnológico de Penha Garcia aquilo a que se pode chamar de uma  experiência paleontológica. Deixo-vos só mais esta para abrir o apetite.

Sabia que

Penha Garcia já esteve localizada nas margens de um mar de pequena profundidade?

A sua instalação neste local remonta ao neolítico, resultado de uma ocupação com mais de 480 milhões de anos. Época em que a região era banhada por um mar cheio de vida que deixou as suas marcas até aos nossos dias.

Através da Rota dos Fósseis, vai encontrar inúmeros vestígios do que foi a vida neste lugar há 600 milhões de anos. E é descendo em direção ao rio que entramos no Geopark Naturtejo.

Crédito das fotos: Pedro Cerqueira

Geopark Naturtejo é um território assente neste passado e na bem preservada presença fóssil nesta região. É um território aberto com 5000 km², classificado pela UNESCO como Geoparque mundial, e que é o melhor livro de história sobre a vida na terra, e nesta terra em particular, 600 milhões de anos atrás.

E após dois dias de descoberta pelo território é hora de relaxar e de se colocar nas mãos sábias de quem sabe o poder das águas medicinais das Termas de MonfortinhoÉ o local ideal para terminar esta visita a Idanha, aproveitando algumas das terapêuticas aquáticas das termas  cujas águas são famosas pelas suas excecionais virtudes terapêuticas.

Oleiros

Oleiros é mais um tesourinho em terras da Beira Baixa que não deve deixar de visitar. Siga o percurso Pedestre GeoRota de Orvalho e vai ficar certamente apaixonado pelo local. Começando ou passando pela Cascata da Fraga da Água d’Alta, um espaço envolvido de natureza, em pleno Geoparque Naturtejo, vai perceber como a natureza é generosa por estes lados.   

E, porque a paisagem por aqui é uma obra de arte, não deixe de se perder nos trilhos do Projeto Experimenta Paisagem. Um projeto artístico que integra precisamente arte e a paisagem natural da Região. Entre várias obras podem tentar encontrar as obras de arte Moongate, em Oleiros, e Farol dos Ventosjá em Proença-a-Nova.

Proença-a-nova

Passagem obrigatória pelo Centro Ciência Viva da Floresta, onde o convite é experimentar tocar e sentir a floresta com atividades disponíveis para toda a família.

Situado no Pinhal interior permite tocar experimentar descobrir imaginar e aprender sobre a floresta fonte de conhecimento e de cultura que devemos valorizar e preservar.

Crédito das fotos: Pedro Cerqueira

Penamacor

Visita ao Centro histórico e cultural de Penamacor, com paragem obrigatória na Igreja Convento de Santo António. Aqui vai ficar fascinado com o surpreendente interior em madeira talhada que reveste quase todo o convento, desde o teto, ao altar-mor e ao púlpito e aos dois altares laterais.

No topo, passando por um pátio interno de total paz e tranquilidade, encontramos um peculiar cadeiral do coro, cuja pinturas são de inspiração oriental. Tente encontrar, do lado direito, de frente para o altar, a pintura com um monge que parece estar a usar um par de óculos. Curiosa pintura para a época!

Vila Velha de Ródão                            

Por fim, termino este périplo pelo passeio de barco com partida do Cais de Vila Velha pelas águas tranquilas do Rio Tejo com passagem pelo Monumento Natural das Portas de Rodão.

Sabia que …

a expressão “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” nasceu por estes lados?  Mais exatamente na pressão exercida pelo rio na barragem natural antes formada pela união das duas “portas” de Rodão, o estrangulamento no curso da água com 45 metros de largura.

Além destas magníficas aves poderá observar ainda outras raridades como abutre-do-egipto, a cegonha-negra, a majestosa águia-imperial e o ameaçado abutre-preto, a maior ave planadora de Portugal e uma das maiores do mundo.  

Pelo rio a viagem é acompanhada por uma paisagem inspiradora e pelas muitas aves que fazem deste lugar a sua casa. 

Sabia que …

é neste “monumento” rochoso que reside a maior colónia de grifos do país?
Crédito das fotos: Pedro Cerqueira

Gastronomia da Beira Baixa

Não conheço um único local em Portugal que se coma mal e a Beira Baixa não foi exceção.

Casa da Velha Fonte na Casa da Amoreira – Idanha-a-Velha

A começar pelo almoço Romano preparado pela chef Maria Caldeira de Sousa, uma mestra  na recuperação dos receituários romanos e na sua recriação para os nossos tempos, com ingredientes de época, biológicos e onde são privilegiadas as ervas aromáticas e o mel em vez de sal e açúcar.  E sim, a comida sabia tão bem como parece nestas imagens.

Adega dos Apalaches – Oleiros

O lugar é meio secreto, mas não tanto como parece. Até já teve honras de televisão. E percebe-se porquê. Este é mais um daqueles locais que faz questão de guardar e manter os sabores antigos. Já ouviu falar do cabrito estonado de Oleiros? Pois, saiba que é comida dos deuses, rústica, saborosa. Confecionado em forno a lenha e O acompanhado com tudo a temos direito e com vinho típico e histórico de Oleiros, vinho Callum.

Sabia que

e, segundo nos foi dito mais do que uma vez, somos nós que esperamos pelo cabrito e não o contrário? Ele sai do forno a estalar, sendo assim que manda a tradição. A pele deve fazer o “crack” ao ser cortada.

Roteiro realizado a convite do Turismo do Centro.

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