Turismo Cemiterial! Este é um tipo de Turismo que não é para todos, seja por questões de sensibilidade ou questões religiosas ou outras, nem todos gostam de andar a passear por cemitérios a visitar jazigos e criptas mas na verdade tem um enorme riqueza cultural, histórica e arquitetónica.
Já antes tinha visitado outros cemitérios conhecidos por esse mundo fora como o Cemitério Nacional de Arlington, em Washington e o Antigo Cemitério Judeu de Praga, mas na verdade não existe no mundo nenhum tão rico e grandioso como o cemitério dos prazeres de em Lisboa. Sobretudo se tivermos a sorte de fazer uma visita guiada pelo historiador da Câmara de Lisboa, Dr. Licínio Fidalgo, responsável pela área cultural dos cemitérios. “Dono” do Cemitério dos Prazeres e administrador dos outros seis de Lisboa, ninguém conhece melhor cada canto, recanto e jazigo deste cemitério. Leva-nos numa visita pela história, cultura, política e arquitetura nacionais, sempre pontuando com momentos de boa disposição.
O cemitério tem diferentes pontos de interesse e diversas rotas que é possível fazer, desde a rota sobre a sua história, a Rota Maçónica, a Rota dos Símbolos Profissionais e a Rota da Estatuária. É um verdadeiro Museu a céu aberto além de ser um local de grande tranquilidade no bulício da cidade, com rua extensas ladeadas de ciprestes.
E agora só um pouquinho de história. Os cemitérios públicos tiveram origem em 1835 e foram desenvolvidos essencialmente graças a duas catástrofes – a cólera e o terramoto. Os cemitérios dos Prazeres e Alto de S. João os primeiros construídos pelo estado. Foram construídos em locais afastados do Centro da cidade mas com o seu crescimento foram engolidas e encontram-se atualmente rodeados por prédios e zonas residenciais.
E se no início a sua construção foi meramente funcional – enterrar o mais afastado do centro da cidade os muitos milhares de mortes das catástrofes – rapidamente estes espaços se tornaram em lugares de promoção social, com a construção de grandes e elaborados jazigos familiares. Os cemitérios passaram a ser locais de encontro onde as sras da nobreza mostravam as últimas modas, locais onde eram celebrados contratos de casamento, locais de ostentação e até de reuniões políticas. Com este crescimento de relevância social, muitos dos jazigos passaram então a ser entregues a reputados arquitetos, alguns com Prémio Valmor de Arquitectura atribuídos, tendo o cemitério passado a ser uma galeria de peças de arte ao livre. O melhor exemplo é o primeiro nu a ser instalada em espaço público, neste caso uma estátua feminina de rara beleza que adorna um jazigo de uma desconhecida Sra. francesa.
Alguns dos principais pontos de interesse:
– Jazigo dos Duques de Palmela, é o maior Mausoléu privado da Europa com capacidade para 200 corpos;
– Jazigo do Mestre de Obras, que representa fielmente uma banca de carpinteiro;
– Jazigo da família Carvalho Monteiro, proprietário e construtor do Palácio da Regaleira em Sintra, que se encontra repleto de simbologia maçónica e construído pelo mesmo arquiteto que terá construído a Quinta;
– Jazigo Magalhães de Lima, diretor do jornal o “Seculo” e reconhecido maçon;
– Jazigo de Aniceto Rocha, um militar e professor na Escola do exército que quis ser sepultado de pé, tendo projectado o seu próprio jazigo com uma forma engenhosa de aceder ao seu subterrâneo. Simboliza “Os Generais morrem de pé!”. É mais mais conhecido pelo jazigo do Dado, peça através da qual é possível acionar o mecanismo que mantém a sepultura na vertical;
– Jazigo em forma de Castelo, onde estão enterrados dois conceituados militares;
– Jazigo do conceituado artista português, Roque Gameiro, repleto de simbologia maçónica;
A visita é realizada por Licínio Fidalgo conforme já referi, tem a duração de duas horas (mas pode ser muito mais dado o vasto conhecimento do nosso anfitrião e guia – a nossa durou três horas e meia).
Marcações através do nº 213 912 700/213 912 699 ou do email dmau.dhu.dgc@cm-lisboa.pt. Entrada é livre e requer marcação prévia.
Convido-vos, assim, a descobrir e a percorrerem o Cemitério dos Prazeres, as suas construções, a sua história e a percorrerem as suas ruas para ficarem a conhecer o seu valor cultural, histórico e social.