A presença de judeus em Praga é antiga, datando do século XI. Obrigados a viver em comunidades muradas, no atual bairro de Josefov, durante vários séculos, aí fizeram as suas vidas, sobrevivendo como possível. Uma visita pelo bairro, importante centro da vida religiosa e social da comunidade judaica na Europa Central, é mergulhar num passado sombrio, cuja memória deve ser preservada. Vamos conhecer Josefov, o bairro judeu de Praga?

Locais como o Antigo Cemitério, onde centenas de sepulturas estão empilhadas, são memórias vivas e feriadas ainda abertas na história judaica de Praga. O seu aspeto único é produto uma época onde o espaço da comunidade era escasso e os seus mortos eram empilhados. Este era um dos únicos cemitérios disponíveis para os judeus. A altura das diversas lápides face ao nível da rua é o testemunho dessa época. Tem mais de 200 000 sepulturas. Uma das mais visitadas é a do rabino Jehuda Löw ben Becalel. Criador do Golem (imagem da figura humana feita de barro com origem no Egipto antigo) onde são deixadas notas pequenas com desejos secretos. Diz-se que o rabino pode cumprir os desejos dos peregrinos.
Contígua ao cemitério encontramos a Sinagoga Klausen, a maior do bairro. Espaço onde está uma exposição sobre a cultura judaica e a Casa Cerimonial, antiga Sede da Sociedade Fúnebre. Aqui fiquei a conhecer alguns rituais fúnebres dos judeus.
A Antiga-Nova Sinagoga, uma das mais importantes, testemunha conturbados momentos da história judaica em Praga. É a mais antiga da Europa e o centro religioso da comunidade de judeus na cidade.
Na Sinagoga Pinkas fiquei a conhecer a história judaica em Praga. Após a II Guerra Mundial tornou-se espaço de homenagem às mais de 80 000 mil vítimas checas que morreram no holocausto. Os nomes e datas de todos os que morreram no campo de concentração de Terezín estão inscritos nas paredes. Igualmente comovente são os mais de 4 000 desenhos de crianças judias do campo de concentração de Terezín, muitas das quais morreram nas mãos dos nazis.

Seguir visita até à Sinagoga Espanhola, uma das mais opulentas e a mais bela da cidade, com o seu interior mourisco, ricamente decorado. No local onde judeus espanhóis se estabeleceram quando foram expulsos pela Rainha Isabel de Castela no século XV.
Tempo ainda de conhecer a Sinagoga Maisel, saqueada pelos Nazis (abrigava uma importante coleção de prata judaica) e a Alta Sinagoga, onde podem ser vistos rolos de toras e mantos.


O edifício da Câmara Municipal Judaica é uma das principais atrações do bairro. O seu relógio rococó é conhecido pelos ponteiros que rodam ao contrário, respeitando a tradição judaica de escrever.

Praga é ainda a cidade nativa de Franz Kafka, o escritor judeu que, diz-se, escreveu dois dos seus romances mais famosos, O Castelo Visite e O Processo, no gueto de Josefov.
Para terminar a visita, recomendo uma passagem pelo Café Louvre (Národní 22), onde Kafka e o físico Albert Einstein (também ele nascido no seio de uma família de judeus alemães) costumavam frequentar.
Apesar das memórias menos felizes, Josefov renasceu das cinzas da sua trágica história. Alberga hoje algumas das mais luxuosas lojas do mundo e um bairro de classe alta que desemboca orgulhosamente na Praça da Cidade Velha.
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