Cracóvia, à descoberta da antiga capital

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À chegada a Cracóvia encontrei uma cidade ensolarada, mas muito saturada de turistas e peregrinos (estava a decorrer as jornadas da juventude, que entre milhares de pessoas levou também à cidade o Papa Francisco). Talvez por isso dificultou apreciar a beleza pura e a altivez da cidade.

No entanto, não posso deixar de admitir que a cidade é uma obra de arte. Cracóvia é a segunda cidade mais importante da Polónia e foi a sua capital durante cinco séculos, sendo uma memória viva da melhor época do país. Quem já passou por Itália reconhecerá muitas semelhanças, a maioria das casas e palácios foram construídos com inspiração na arquitetura da renascença. Mas as suas principais obras de arte são a zona da Cidade Velha, o Castelo Wawel e o Bairro de Kazimierz, que fazem parte da primeira lista de Património Mundial da UNESCO criada em 1978. Na altura era um reconhecimento altamente prestigiado visto que apenas 12 locais receberam tal distinção.

O que não quererá perder numa passagem por Cracóvia.

À descoberta de Cracóvia

Praça Principal

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Tudo acontece à volta da Praça Principal, a maior praça central medieval da Europa. Foi fundada no século XIII, aquando da constituição da cidade e foi sendo construída, ao longo dos anos, em sucessivas camadas. Esta evolução é visível junto à igreja S. Adalberto, a diferença de alturas entre o solo da igreja que data do século X e a restante praça é bastante evidente.

A Igreja de Santa Maria é também anterior à sua constituição, por esse motivo se encontra, numa praça completamente quadrada, desenquadrada dos restantes edifícios. É uma das mais bonitas basílicas góticas onde já tive oportunidade de entrar com magníficos vitrais, coloridas paredes e, sobretudo, pelo grandioso altar, com 13 metros de altura e 11 de largura, um dos maiores da Europa. O seu autor, Veit Stoss, demorou 12 anos a concluir a obra, incluindo cerca de 200 figuras esculpidas, cuja dimensão oscila entre uns poucos de centímetros até aos 3 metros. A igreja é também conhecida pelo famoso toque de corneta, que acontece a todas as horas.

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Mais tarde surgiu o Pavilhão da Roupa, duas filas de bancadas atribuídas a mercadores. O edifício teve uma história algo atribulada o que justifica que, para os mais atentos, sejam visíveis diferentes estilos arquitetónicos. Assim, como uma cebola, encontramos neste edifício diferentes camadas. A primeira data do século XII e é um exemplo de arquitetura medieval, a segunda, mais renascentista, resulta de um incêndio que teve lugar no século XVI e que obrigou à sua reconstrução. Finalmente no século XIX foi acrescentada a última camada: os arcos e colunas neogóticos. Lá dentro ainda hoje se mantém a tradição de comprar e vender produtos, atualmente sobretudo produtos locais e souvenirs para os turistas.

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Ainda na Praça é impossível não dar pela presença de uma gigante torre de tijolos, com 70 metros de altura, única peça sobrevivente da antiga Câmara Municipal construída durante os séculos XIII e XIV. No século XIX a cidade optou por destruir o edifício adjacente, concluindo que “deitar abaixo” dava menos trabalho do que recuperar o edifício que se encontrava em péssimo estado. Uma pena!

A Cidade Velha

A Praça é o centro nevrálgico da Cidade Velha, mas à sua volta existe muito para descobrir.

Barbicão e Porta S. Floriano

À volta da Praça encontram-se uma série de edifícios históricos e palácios em excelente estado de preservação onde se destacam as principais defesas da cidade. O Barbicão e a Porta de S. Floriano foram construídos a poucos metros do centro para evitar ataques inimigos. O Barbicão é verdadeiramente impressionante, tem paredes com mais de 3 metros de largura, sete torres de observação e uma curiosa porta lateral que, a somar à varanda interior, tinha como objetivo atrasar a entrada inimiga na cidade. A Porta faz parte da muralha defensiva constituída por três quilómetros de paredes fortificadas, 47 torres, oito portões e um fosso.

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Collegium Maius

A mais antiga Universidade de Cracóvia foi fundada por Jagiellons em 1400, mas ao longo dos séculos foi remodelada várias vezes. Tem um pequeno e tranquilo pátio cercado com arcadas do século XV  e é um dos locais mais mágicos de Cracóvia.

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Igrejas e mais igrejas

Na Polónia o número de igrejas é verdadeiramente impressionante e Cracóvia não é exceção. Por aqui é frequente encontrar duas ou três igrejas lado a lado, como no caso da Igreja da Santa Maria, ladeada pela pequena Igreja de Santa Bárbara e que ainda divide a Praça Central com a Igreja de Santo Wojciech. A igreja de Santo André é outro desses exemplos, paredes meias com a Igreja de S. Pedro e S. Paulo. A sua alta torre de pedra com paredes grossas deixa-nos adivinhar funções defensivas, visto que data do século XII, um dos mais antigos edifícios da Polónia. A igreja de Pedro e Paulo é imponente, guardada pelos doze apóstolos e é bastante similar às igrejas romanas. Na cúpula tem um pêndulo de Foucault, cujo balançar comprova o momento circular da terra.

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A Universidade

Cracóvia recebe a segunda mais antiga universidade da Europa Central  – a Jagueloniana, por onde passaram grande nomes como Nicolaus Copernicus e o Papa João Paulo II. Alguns dos seus edifícios são históricos e datam da sua fundação. São construídos essencialmente de tijolos vermelhos o que lhe dá um aspeto muito característico.

A Colina Wawel

Do alto da Colina de Wawel encontro um dos maiores e mais bem preservados castelos da Europa, que ainda consegue manter a sua imponência renascentista. O Castelo foi construído por Zygmunt I, o penúltimo rei da Dinastia Jagueloniana. À semelhança de outros edifícios da cidade foi construído por arquitetos italianos. Quando a corte mudou  para Varsóvia acabou por ficar ao abandono até que passou para as mãos da cidade que tem realizado um importante trabalho de restauração e reabilitação.

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A Catedral do Wawel, a mais importante da Cidade, é uma misturada de estilos e épocas que a torna única. Do lado de fora conseguimos reconhecer a sua origem medieval que depois foi adornada e complementada com três capelas de épocas e estilos diferentes, gótico, Renascentista e Barroco. Quase todos os reis polacos (37) tiveram aqui a sua coração e também quase todos foram aqui sepultados. Uma tal obra-prima não podia ser perfeita sem um sino à sua dimensão e importância. Sigismund, como é conhecido, pesa 12.7 toneladas sendo precisas doze pessoas para o tocar, soando a cerca de 10 km de distância.

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Os Bairros de Kazimierz e Podgorze

O Bairro de Kazimierz é há muito reconhecido como a “Cidade dos Judeus”, desde que esta comunidade para ali foi “empurrada”, afastada do centro de Cracóvia. Por outro lado, é curioso o número de igrejas católicas que por ali nos deparamos, deixando a imagem de uma convivência próxima e natural entre ambas as religiões.

Antes da II Guerra Mundial este bairro era habitado por mais de 65.000 judeus, 25% da totalidade da sua população. Aqui construíram as bases de uma economia forte e de uma estrutura social e religiosa sólidas, suportadas por um conjunto de sinagogas. É muito interessante deambular pelas suas ruas e encontrar os vestígios desta comunidade.

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O outro bairro associado à história dos judeus, mas desta feita não pelos melhores motivos é Podgorze, situado na margem direita do rio Vistula. Este bairro industrial foi, durante o período de ocupação nazi, o gueto para onde foram deslocados todos os judeus da cidade. Mais de 15.000 judeus foram aqui aprisionados, sendo depois levados para os campos de concentração. Essa memória é hoje assinalada na praça principal de Podgorze onde diversas cadeiras assinalam o local onde se localizava o gueto. É também aqui que se localiza a famosa fábrica de Schindler, responsável por abrir e salvar milhares de judeus.

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Nowa Huta

Entrar em Nowa Huta é entrar numa outra realidade, longe (bem longe) da Cracóvia bonita para turista. Este bairro é frio e duro, representando uma memória viva da presença comunista na cidade. As grandes alamedas, os edifícios de linhas retas e simétricos entre si são exemplo da arquitetura realista soviética. Tudo isto cria um ambiente estranho e sombrio que faz deste bairro, um local muito fascinante a conhecer.

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Como ir: A TAP tem voos regulares diários para Cracóvia, mas podem fazer a viagem para Varsóvia (pelas contas que fiz sai mais em conta) e fazer a ligação a Cracóvia de Comboio. São cerca de duas horas, mas os comboios são novos e confortáveis.

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